VIVA O DIA DA POESIA!

 A POESIA , A MÃE DE TODAS AS ARTES

DO - EXPRESSAOUNICA.BLOGSPOT.COM - Entre o amor, ódio e dor, a poesia sempre estar e estará presente plantando uma flor. E neste dia 14,  para homenagear seu dia, utilizamos a publicação de nossa amiga Carolina Marcello, focalizando o grande poeta, Carlos Drummond de Andrade, os seus 15 melhores poemas, Com isso, aproveitamos a oportunidade para saudar todos os demais poetas do Brasil e do mundo. "que o mundo seja direcionado no caminho da fraternidade e do amor".  Poesia: "A mãe de todas as artes!".  

Poesia

Por mais que o mundo

seja banal, mau, mal

Amarelo, calmo com gosto de mel

selvagem como o gosto de fel

a poesia sempre estará presente 

ditando as normas, alegres e dolosas 

como uma rainha no todo e no vazio

É só você olhar para infinito 

ver e sentir seu grito!

Se não quiser enxergar o escrito...


Joselito dos Reis

14.03.2021


VIVA 14 DE MARÇO; DIA DA POESIA! 

25 poemas de Carlos Drummond de Andrade


Carolina Marcello
Carolina Marcello
 
Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes

Carlos Drummond de Andrade (31 de outubro de 1902 — 17 de agosto de 1987) é um dos maiores autores da literatura brasileira, sendo considerado o maior poeta nacional do século XX.

Integrada na segunda fase do modernismo brasileiro, sua produção literária reflete algumas características do seu tempo: uso da linguagem corrente, temas do cotidiano, reflexões políticas e sociais.

Através de sua poesia, Drummond foi eternizado, conquistando a atenção e a admiração dos leitores contemporâneos. Seus poemas se centram em questões que se mantêm atuais: a rotina das grandes cidades, a solidão, a memória, a vida em sociedade, as relações humanas.

Entre suas composições mais famosas, se destacam também aquelas que expressam reflexões existenciais profundas, onde o sujeito expõe e questiona seu modo de viver, seu passado e seu propósito. Confira alguns dos poemas mais famosos de Carlos Drummond de Andrade, analisados e comentados.

No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Este é, provavelmente, o poema mais célebre de Drummond, pelo seu carácter singular e temática fora do comum. Publicado em 1928, na Revista da Antropofagia, "No Meio do Caminho" expressa o espírito modernista que pretende aproximar a poesia do cotidiano.

Referindo os obstáculos que surgem vida do sujeito, simbolizados por uma pedra que se cruza no seu caminho, a composição sofreu duras críticas pela sua repetição e redundância.

Contudo, o poema entrou para a história da literatura brasileira, mostrando que a poesia não tem de ficar limitada aos formatos tradicionais e pode versar sobre qualquer tema, até mesmo uma pedra.

Consulte também a análise completa do poema "No meio do caminho tinha uma pedra".

Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Um dos aspectos que captam imediatamente a atenção do leitor neste poema é o facto do sujeito referir a si mesmo como "Carlos", primeiro nome de Drummond. Assim, existe uma identificação entre o autor e o sujeito da composição, o que lhe confere uma dimensão autobiográfica.

Desde o primeiro verso, ele se apresenta como alguém marcado por "um anjo torto", predestinado a não se enquadrar, a ser diferente, estranho. Nas sete estrofes são demonstradas sete facetas diferentes do sujeito, demonstrando a multiplicidade e até contradição dos seus sentimentos e estados de espírito.

É evidente o seu sentimento de inadequação perante o resto da sociedade e a solidão que o assombra, por trás de uma aparência de força e resiliência (tem "poucos, raros amigos").

Na terceira estrofe, alude à multidão, metaforizada nas "pernas" que circulam pela cidade, evidenciando o seu isolamento e o desespero que o invade.

Citando uma passagem da Bíblia, compara o seu sofrimento com a paixão de Jesus que, durante a sua provação, pergunta ao Pai por quê Ele o abandonou. Assume, assim, o desamparo que sente perante Deus e a sua fragilidade enquanto homem.

Nem mesmo a poesia parece ser uma resposta para essa falta de sentido: "seria uma rima, não seria uma solução". Durante a noite, enquanto bebe e olha a lua, o momento da escrita é aquele onde se sente mais vulnerável e emocionado, fazendo versos como uma forma de desabafar.

Leia também a análise completa do Poema de Sete Faces.

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili,
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Com o título "Quadrilha", esta composição parece fazer referência à dança europeia com o mesmo nome que virou tradição nas festas juninas brasileiras. Vestidos com disfarces, os casais dançam em grupo, conduzidos por um narrador que propõe várias brincadeiras.

Usando essa metáfora, o poeta apresenta o amor como uma dança onde os pares se trocam, onde os desejos se desencontram. Nos três primeiros versos, todas as pessoas mencionadas sofrem de amores não correspondidos, menos Lili "que não amava ninguém".

Nos quatro versos finais, descobrimos que todos os romances falharam. Todas as pessoas mencionadas acabaram isoladas ou morreram, apenas Lili casou. O absurdo da situação parece ser uma sátira sobre a dificuldade de encontrar um amor verdadeiro e correspondido. Como se fosse um jogo de sorte, apenas um dos elementos é contemplado com o final feliz.

Confira também a análise completa do poema Quadrilha.

José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Um dos maiores e mais conhecidos poemas de Drummond, "José" exprime a solidão do individuo na cidade grande, a sua falta de esperança e a sensação de estar perdido na vida. Na composição, o sujeito lírico se interroga repetidamente acerca do rumo que deve tomar, procurando um sentido possível.

José, um nome muito comum na língua portuguesa, pode ser entendido como um sujeito coletivo, simbolizando um povo. Assim, parecemos estar perante a realidade de muitos brasileiros que superam inúmeras privações e batalham, dia após dia, por um futuro melhor.

Na reflexão sobre o seu percurso é evidente o tom disfórico, como se o tempo tivesse deteriorado tudo em seu redor, o que fica nítido em formas verbais como "acabou", "fugiu", "mofou". Listando possíveis soluções ou saídas para a situação atual, percebe que nenhuma delas funcionaria.

Nem mesmo o passado ou a morte surgem como refúgios. Contudo, o sujeito assume a sua própria força e resiliência ("Você é duro, José!"). Sozinho, sem a ajuda de Deus ou o apoio dos homens, continua vivo e segue em frente, mesmo sem saber para onde.

Consulte também a análise completa do poema "José" de Carlos Drummond de Andrade.

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

Apresentando o ser humano como um ser social, que existe em comunicação com o outro, nesta composição o sujeito defende que o seu destino é amar, estabelecer relações, criar laços.

Descreve as várias dimensões do amor como perecíveis, cíclicas e mutáveis ("amar, desamar, amar"), transmitindo também as ideias de esperança e renovação. Sugere que mesmo perante a morte do sentimento, é preciso acreditar no seu renascimento e não desistir.

Apontado como "ser amoroso", sempre "sozinho" no mundo, o sujeito defende que a salvação, o único propósito do ser humano está na relação com o outro.

Para isso, tem que aprender a amar "o que o mar traz" e "sepulta", ou seja, o que nasce e o que morre. Vais mais além: é preciso amar a natureza, a realidade e os objetos, ter admiração e respeito por tudo o que existe, já que esse é "nosso destino".

Para cumpri-lo é necessário que o indivíduo seja teimoso, "paciente". Deve amar até a falta de amor, por conhecer sua "sede infinita", a capacidade e vontade de amar mais e mais.

Os Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Publicado em 1940, na antologia Sentimento do Mundo, este poema foi escrito no final da década de 1930, durante a Segunda Guerra Mundial. É notória a temática social presente, retratando um mundo injusto e repleto de sofrimento.

O sujeito descreve a dureza da sua vida sem amor, religião, amigos ou sequer emoções ("o coração está seco"). Em tempos tão cruéis, repletos de violência e morte, ele tem que se tornar praticamente insensível para suportar tanto sofrimento. Deste modo, sua preocupação é apenas trabalhar e sobreviver, o que resulta numa solidão inevitável.

Apesar do tom pessimista de toda a composição, surge um laivo de esperança no futuro, simbolizada pela "mão de uma criança". Aproximando as imagens da velhice e do nascimento, faz referência ao ciclo da vida e à sua renovação.

Nos versos finais, como se transmitisse uma lição ou conclusão, afirma que "a vida é uma ordem" e deve ser vivida de forma simples, focada no momento presente.

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