UM CANTO PARNASIANO:
A POESIA DE JOSÉ BASTOS


Segundo Hamilton Nepomuceno, organizador e prefaciador da segunda edição de Horas Líricas, primeiro e único livro do poeta Itabunense José Bastos (1905 – 1937), nascido no então arraial de Água preta, hoje o bairro Antique, o poeta completou o aprendizado das letras na cidade natal, depois seguiu para a capital de onde retornara por conseqüência da morte de seu pai em Agosto de 1918.

Continuou seus estudos no Colégio Cabral, não podendo completá-lo por se ver forçado a empregar-se no comércio a fim de assegurar sua manutenção pessoal e minorar os sacrifícios da mãe. Trabalhou na Livraria Colombo, onde teve acesso à obra dos maiores autores nacionais e estrangeiros, período em que assinou seu primeiro soneto, “Náiade Exilada”, publicado no jornal local “O Intransigente” em Dezembro de 1924. No ano seguinte segue para Salvador onde conclui o curso secundário e dá aulas para os alunos do ensino primário, no Ginásio Ipiranga.

Retorna para Itabuna no ano de 1927 e ingressa no jornalismo local fazendo parte da equipe do Jornal “A Época”, onde publicara a maior parte da sua obra poética. Também foi redator do jornal humorístico “O Gavião”.

“Horas Líricas” foi publicado em 1930 e reeditado como homenagem ao cinqüentenário de Itabuna. Com esse livro em mãos o poeta foi para o Rio de Janeiro, onde pretendia inserir-se na vida cultural da antiga capital do país, não conseguindo seu intento. Melancólico e doente, vítima da tuberculose, ateia fogo em toda a sua produção ainda inédita em verso e prosa, da qual apenas do título se tem notícia: “Terra Verde”.

Para escrever sobre a obra de José Bastos é necessário não recorrer à opinião corrente e irrefletida sobre o formalismo que se alastra de maneira vulgar nos tempos da tão propalada pós-modernidade, um tempo de homens pobres de reais valores, para nos determos aos elementos que constituem a sua poesia, buscando situá-la em um contexto adequado.

E sua poesia não é outra senão o reflexo de um rigoroso senso estético, quanto a linguagem e estrutura, não variando muito quanto a forma (o soneto), fruto de uma escola parnasiana, da qual Olavo Bilac foi, no Brasil, seu artífice mais talentoso.

Como todo poeta parnasiano José Bastos não economizou no uso de palavras incomuns, evitava o intimismo sendo objetivo e impessoal. Seus temas quase sempre são sobre a natureza ou arqueológicos, mitológicos ou históricos. Também usou poucas figuras de linguagem, pois o uso destas, especialmente as de pensamento, implica uma subjetividade da qual o parnasiano buscava fugir, empregando abundantemente o hipérbato, figura de construção que consiste na inversão da ordem natural dos termos da oração, como neste fragmento do poema ALVORADA PAGÃ: Diana bela e gentil à caçada se apresta,/ Monta o alado corcel. Em requebros felinos,/ Bailam ninfas a rir. Por detrás da floresta,/ Descerra o loiro Apolo os olhos cristalinos.”

Fiel a esse ideário, o poeta procura de maneira intencional os ideais clássicos de beleza, equilíbrio, universalidade, harmonia, materialismo com a finalidade de atingir o universalismo platônico, que tanto é mais verdadeiro quanto mais as pessoas acreditarem nele.

A terra natal é matéria quase sempre obrigatória na obra de todo escritor. Uma hora, ao longo do seu caminho literário, ele fatalmente terá a necessidade de falar sobre o seu chão. Foi assim com os maiores escritores e com José Bastos não seria diferente. Ele escreveu o soneto ITABUNA. Irregular quanto à métrica (o que não diminui seu valor), esse poema é repleto de elementos poéticos, acompanhe: Minha terra natal! Que te abrasas e inundas/ De tanto sol! Assim, entre agrestes verdores/ Do Cachoeira escutando os bravios rumores,/ Como a iara gentil dessas águas profundas!// Quantas poesias tens nas árvores jucundas/ Que te cercam além! Nas casas multicores,/ Que se alteiam brilhando, entre ramos e flores,/ E enchem de encanto e vida estas plagas fecundas!// Ah! Como eu sou feliz e me sinto orgulhoso/ De um dia ter nascido em teu seio faustoso,/ Sob o esplendor de um céu de beleza tão rara!// De me haver embalado à cantiga e ao gemido/ Do Cachoeira, que rola a água profunda e clara,/ Escumando aos teus pés como um jaguar ferido!...
É perceptível que o atendimento rigoroso e brutal ao cânone do seu tempo tornou a poesia de José Bastos um tanto engessada, porém é claro que suas virtudes como poeta superam, em muito, qualquer crítica destrutível que sobre sua obra seja lançada.

Artigo publicado originalmente no jornal Agora, de Itabuna Caderno Banda B.

Escrito por Gustavo Felicíssimo

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